26.2.08

a cura de rafael

- qual teu paciente mais antigo?
- a das 18h.
- quanto tempo?
- 4 anos.
- perspectiva de alta?
- ela sempre pergunta. nenhuma... na verdade tenho pensado em dar alta à você.
- ...
- mas acho que não faço isso por minha causa mesmo. vou sentir sua falta.
- ...
- não precisa me olhar com essa cara, é só um pensamento.
- eu, pronto pro mundo?

21.2.08

baseado em fatos reais

estava eu, entretido com minha trufa de maracujá, mas ainda assim, num raro momento social em meio aos acéfalos aos quais sou obrigado a me deparar todos os dias.
no meio desse apartheid há quem seja cosmopolita o bastante pra conseguir se relacionar comigo e com o resto, enfim.
- sabia que fulaninho tem uma privada tatuada na barriga?
- que?
- fulano. tem uma privada na barriga!
- oi?
- é sério. reza a lenda que ele era bem gordo e teve um problema de saúde grave. algo relacionado ao intestino. pois bem. dizem que ele precisou retirar uma parte podre desse intestino e passou por um pós-operatório árduo e bem longo. enquanto isso ele fazia cocô por um buraco na barriga mesmo. depois de um bom tempo ele reapareceu, já recuperado, magéérrimo e com uma privada tatuada na barriga.
- não creio.
- fulano, vem cá. mostra tua tatuagem aí.
e qual não foi minha surpresa, amiguinhos, ao ver a criatura levantar a camisa e mostrar uma privada que ocupava toda a lateral direita da sua barriga!
e não pára por aí. na boca da privada era onde estava exatamente localizada a cicatriz, que lembrava bastante um buraco negro.
e pensar que um dia subestimei a criatividade do tal fulano, hein?
plus: em cima da privada havia uma placa com a seguinte inscrição: desativado!
ufa.

20.2.08

17.2.08

um caso complicado de se entender.

eu só tenho a agradecer por ter chegado a esse mundo depois de ti.
e não precisar passar um dia sequer sem tua risada contagiante, teu choro fácil, teus gestos amigos, companheiros, tua bondade inocente, teus comentários impagáveis, tuas olheiras matinais, teu boa noite rotineiro, teus impulsos consumistas, teu gosto duvidoso, tuas combinações exageradas...
te amo do jeito que és, por tudo que és:

14.2.08

das duas pessoas, em um só dia:

1. "você tem o dom de me fazer chorar, sabia?"
2. "você é mestre em me irritar."

update: hoje, mais uma :)

3. "você é parte de mim"

13.2.08

never quiet as it seems

essa noite sonhei com você de novo. dessa vez foi mais light (ou não).
o lugar apesar de desagradável, me era familiar e te ver sem ser visto, de certa forma, me agradava. só você tinha voz em meio a tantas outras bocas mudas, só você não tinha olhos para mim.
eu não sei porque estava ali, mas quis o tempo todo acreditar que não era por sua causa.
já de saída, a amiga de sempre, hoje, no papel de figurante, me chama pelo nome. alto.
sua reação foi imediata. vi você me ver, mas não quis encarar. não queria que depois de tanto tempo fossemos obrigados a nos cumprimentar ali, no meio daquela gente sem nome. te queria só, pra mim.
saí o mais depressa que pude: lentamente.
no caminho tão curto e interminável as pessoas me apontavam, me recriminavam. o feitiço contra o feiticeiro.
quis sumir, correr, fugir, desaparecer. tentava fazer das paredes, dos postes, das placas um apoio, um impulso.
inutilmente.
era como se eu estivesse debaixo d´água.

9.2.08

quando murphy faz um pacto com as baratas

eu odeio bichos em geral e insetos então, nem comento. mas as baratas, ah, as baratas...
eu bem que poderia fazer um blog paralelo para contar meus casos com as baratas. infelizmente, são muitos e, se brincar, de outras vidas! coisa de ancestrais, árvores genealógicas (olha ela aí de novo) e genética.
minha mãe, por exemplo, sente uma coisa por essas criaturas que nem a palavra "pânico" em caps lock, sublinhada, em negrito e itálico ao mesmo tempo é capaz de representar. é uma coisa capaz de fazê-la soltar no chão seu filho bebê (não fui eu) sem pensar duas vezes. e assim, eu fui crescendo e vendo essas reações - com todo o superdimensionamento que você conseguir agregar a essa palavra - quando eram avistadas as criaturas.
a primeira vez que uma barata transitou pelo meu corpo foi numa tarde alegre e harmônica.
eu brincava com meu irmão menor de empurrá-lo numa caixa de papelão que ele cabia inteiro dentro. adrenalina pura. senti uma coceirinha subindo pelo meu braço. uma barata.
na segunda vez foi ainda mais intenso. casa de praia, muita gente, colchão no chão. no meio do sono sinto aquela coceirinha familiar no pescoço, mas não devia ser nada. na mesma noite a próxima coceirinha que senti já tinha ido parar nas pernas.
sim, dormimos juntos!
mas eu só notei a presença de murphy neste ponto da história, amiguinhos:
eu sempre fui uma pessoa da noite e até então, destemida dos perigos que esse período do dia podem proporcionar.
era tarde e escuro quando rafael, deitado em sua cama, escrevia baboseiras e escutava música na santa paz de djeza. a janela do seu quarto até então vivia aberta e o frescor da noite inundava o recinto deliberadamente. foi quando, de repente, aquele barulho de asinhas batendo, da casquinha na madeira envernizada avisou.
pra mim, que não sou besta, bastou isso acontecer uma única vez para que a janela fosse fechada para sempre todos dias ao cair da noite e só fosse aberta no outro dia quando eu acordasse (se ainda houvesse sol do lado de fora)
mas eis que um belo dia, minha irmã resolve habitar meu quarto em minha ausência e esquece a janela aberta. do corredor eu já consigo identificar esse deslize pela luz do luar nas paredes. se minha janela estiver fechada, não tem barata, nem fresta de luz que ultrapasse.
acendo a luz do quarto com o braço dentro e o corpo fora. olho ao redor e só vejo silêncio. entro pé ante pé a espera de um ataque avassalador a qualquer momento. (baratas são tipo kamikazes e partem pra cima! quem vive, sabe.)
ao finalmente atingir a linha do horizonte, o extremo oposto do quarto, consigo fechar a janela depressa e respiro aliviado. viro-me para ir embora com a sensação de dever cumprido e a expressão "bem debaixo do seu nariz" pode ser usada literalmente neste exato momento. ficamos cara-a-cara e eu tenho certeza de que, se as baratas podem tomar um susto, essa morreu dele.
depois de um longo período aplicando as regras para a boa utilização da minha janela, relaxei.
ontem eu cheguei tarde e vi a luz do luar nas paredes do corredor.
mesmo procedimento.
ódio, luz, braço dentro, corpo fora, silêncio, longo caminho, janela fechada.
ontem eu não dei de cara com ela. ontem, eu fiquei aqui no meu quarto fechado, aparentemente sozinho, durante três horas antes de ir dormir. e quando já estou deitadinho vejo aquele ponto preto passando no chão naquela velocidade conhecida por todos. de um canto a outro.
depois que você sai do quarto correndo e fecha a porta é que as coisas começam a funcionar em sua mente. a imagem daquele ser passando por cada cantinho, por cima das suas coisas, das suas roupas, se perdendo por elas, entrando num sapato, numa camisa que você vai vestir amanhã, pelo relógio que vai pro seu braço, pelos óculos que vão pro seu olho...
1/4 do chão do quarto ficou encharcado de baygon.
agora, me diga:
eu moro no décimo andar e a janela ficou aberta três vezes e três vezes uma barata veio em direção à morte. ao lado da minha janela que vive fechada tem uma varanda ampla e aberta dia e noite. se isso não é murphy, o que mais pode ser?
ah,
se eu tenho medo de baratas?
o que sentir pela única criatura capaz de sobreviver a uma bomba atômica?
por uma criatura que sobrevive congelada por até três semanas. tipo, você congela uma barata, espera três semanas, depois descongela e ela sai andando lindamente.
o que sentir por uma criatura que quando decapitada morre, não porque perdeu a cabeça, mas sim, porque perdeu a boca e não pode mais comer. entendeu? ela morre de fome e não porque sua cabeça foi cortada, ora essa. onde já se viu?

3.2.08

como estragar seu dia antes mesmo de acordar

sonhe com as últimas pessoas que você gostaria de sonhar, de um jeito que você nunca viu e jamais gostaria de ter visto.

vou ali morrer um poquinho e volto já.