29.9.08

meu rapaz,

mudar não é coisa para qualquer um. Por isso tem tanta gente que não ama, nem é amado. São os que não aguentam levantar a tampa que os protege do incerto, e mudar. Pois a paixão é incerta, não aceitando o estabelecido. O amor, pior, engana, garantindo que poderá ser estável e infinito. E o ódio, rapaz, esse é sempre eterno.
Portanto, quem é que não ama, não se apaixona, não odeia? Os covardes? Com certeza. Os covardes, entretanto, sábios. Naquele conceito de sabedoria que mata você de velho. E morrer de velho, convenhamos, é a coisa mais humilhante do mundo.

fernanda y.

22.9.08

À minha sorvete de flocos

Todo mundo tem amigos sem-noção, né? Aqueles que te deixam pretérito de tanta inovação, capacidade de superação, ousadia e perspicácia. Mas tem um só que te deixa pretérito mais que perfeito. É aquele da vergonha alheia mais mortal. Só ele pode te tirar do sério e fazer seus músculos da face doerem de tanto rir. Só ele diz e faz coisas dignas de serem divulgadas ao mundo inteiro.
Para identificá-lo em meio a tanta sem-noçãozisse basta você escrever em sua mente um caderninho de pérolas para cada um e aquele que obtiver a maior quantidade de anotações, adivinha?
Pois é, no meu caso, ele é ela. E se chama Maria Clara Fonseca (qualquer semelhança é mera coincidência).
Veja abaixo o saldo de algumas poucas horas ao lado desta figura única:

Caso 01
Sobre sotaques sulistas e derivados.

Clara diz:
Estava eu, chegando em Brasília, aos quinze anos de idade, sozinha, sem saber pra que lado ia, sem saber o que fazer, quando encontro uma boa alma que me diz:

- Olha soam, vai ali naquele guichêw e fala com a Patchy, ela vai tche dar todas as informações.

Chego no guichê e digo:

- Oi, eu queria falar com a Paty.
- Quem?
- A Paty.
- Não trabalha nenhuma Paty aqui não...
- Como assim? Falei com fulaninha ali e ela disse pra eu falar com a "Patchy".
- Aaaaah, você quer falar com a Patchy...
- Por acaso você fala "bucetcha"? ¬¬

Caso 02

Eu: Gente, olha essa formiga, que terror!
Ela: Eita, é uma Jurandira!

1º Ela quis dizer Tanajura.
2º Era uma Saúva.

Caso 03

Estava Clara, linda, na faculdade conversando com um coleguinha quando não mais que de repente surge-lhe uma dorzinha na barriga. Prontamente ela toma seu remédio para cólicas, mas o remédio, amiguinhos, parece não fazer efeito, pois logo em seguida a dor começa a piorar significativamente e se dá uma explosão de gases.
Depois dessa, Clara notou que os sintomas nada tinham a ver com cólicas e instintivamente pegou o primeiro táxi que encontrou.

- Moço, veja bem, eu estou indo para uma reunião no bairro tal e tenho NO MÁXIMO, vinte minutos para chegar lá. Então, por favor, CORRA!

Durante o trajeto, o corpo de Clara que já tinha mandado todos os recados, agora já estava mandando sinais de fogo. Era uma dor insuportável, era um mal-estar, uma suadeira que só quem vive sabe. Mas Clara lá, linda e classúda segurando o... tranco.
Foi quando, do nada, no meio do percurso, o motorista encosta o carro numa rua e diz:

- Moça, eu vou parar aqui bem rapidinho pra jogar no bicho, viu?
- Olhe, moço, eu estou aqui me cagando. E se o senhor não continuar agora eu vou cagar o seu carro todinho.

Gente, eu bem que poderia omitir sua identidade ou até inventar um pseudônimo, mas Clara é tão sem-noção, mas tão sem-noção que eu tenho certeza que ela não tá nem aí, aliás, ela está praticamente andando e cagando. Andando e cagando baldes.
Adoro, né!? :D

11.9.08

Uma casa muito engraçada

Era uma cena bem típica de Lewis Carroll.
O menino corria, corria para salvar algo, alguém, para tentar impedir alguma desgraça qualquer, corria contra o tempo. No meio do caminho tinha uma casa, a casa era o caminho.
Era pequena também, como uma casa de boneca, de gente pequena. Na entrada tinha uma velha senhora, baixinha, de cabelos brancos, de rugas profundas, de humor sisudo.
Ele, o menino apressado, sequer olhou para a guardiã da casa e foi logo adentrando. O primeiro cômodo era um quarto. As paredes não tinham um bom acabamento, e eram amareladas. Da tinta talvez, do tempo, do mofo. A janelinha era curva na parte de cima, como são todas as janelas das casinhas de gente pequena. E essa era azul. Azul clarinho, assim, quase bebê.
Na verdade, o menino nem reparou muito nesses detalhes à primeira vista, afinal, estava apressado.
E assim, abaixado para não bater a cabeça no teto da casa, ele saiu daquele cômodo e entrou no outro. Um outro quarto.
As cores eram diferentes, tinha verde clarinho, assim, quase bebê e tinha um toque de vermelho também. Vermelho vivo. Vermelho sempre é vivo.
Ele tentou abrir a janela para ver se encontrava um jeito de sair logo dali. Ele só sabia que tinha que sair depressa.
Do outro lado da janela, era como se tivesse uma outra parede. Mas isso ele nunca pôde constatar.
E assim, foi saindo de um quarto e entrando em outro. Em outros, seguidos, parecidos, procurando uma saída que parecia não existir. E já desesperado pensou em fazer o caminho de volta. Sua única solução seria, então, sair por onde entrou e procurar um outro caminho, que é claro, tinha que existir.
Com certo esforço e com a ajuda significativa do desespero, ele refez o caminho, voltou em cada quarto e finalmente chegou ao primeiro. Ou ao que parecia ser o primeiro porque ali não havia mais porta alguma, só uma janela a mais, que ele bateu, bateu muito, com força e conseguiu abrir uma pequena brecha por onde via os cabelos brancos e parte da cara carrancuda da vellha.

- Ei, eu quero sair daqui, abra a porta! - disse o menino.
- Você está vendo alguma porta?
- Como eu faço para sair, então?
- Você tem que escolher um quarto, cada quarto vem com um presente.
- Ok, na verdade eu só queria sair da casa, mas então eu fico com este quarto que estou, o primeiro. E agora, o que eu ganho? - perguntou o menino impaciente.
- Este quarto vale a casa. Com o quintal.
- Certo, e agora, como faço pra sair?
- Aqui você não pode sair pela mesma porta que entrou, até porque ela não existe mais.
- Mas não existem outras portas nessa casa!
- Pois é, eu costumo avisar às pessoas que me perguntam antes de entrar.
- E como eu faço para tomar posse do quintal?
- Você não tomará posse alguma. A casa e o quintal seriam seus se.
- Por que?
- Porque existem regras e essa é a regra para quem não sabe brincar.
- Olha, eu só quero sair daqui, não quero brincar.
- Exatamente por isso.

7.9.08

E por falar em saudade

Hoje mais um pedacinho do meu coração foi embora. E é aquela história: por mais que a gente não se veja todos os dias como antes, aquele carinho, aquele mesmo, bem grande, continua aqui, intacto.
E saber que quem sempre esteve tão perto, agora vai ficar inacessível por um tempo significativo, eu lhes digo, não é nada bom. E internet, me poupem, não dá abraço em ninguém.

Então do lado de cá, há um coração em pedaços.
Pedaços que vão,
que estão indo,
que estão,
vindo.

E por causa de vocês, eu posso dizer sem receio:
meu coração é do tamanho do mundo.

E se há uma certeza que o conforta, que o deixa ainda mais gordinho é a de saber que aquele abraço de ontem será exatamente o mesmo daqui há um ano.

às vezes nem sei

Eu não sei se foi teu perfume que banalizou ou se sou eu que continuo o bom e velho psicopata de sempre.
Eu só sei que ando sentindo teu cheiro com freqüência.
E às vezes eu tenho nojo, às vezes eu tenho saudade.