11.9.08

Uma casa muito engraçada

Era uma cena bem típica de Lewis Carroll.
O menino corria, corria para salvar algo, alguém, para tentar impedir alguma desgraça qualquer, corria contra o tempo. No meio do caminho tinha uma casa, a casa era o caminho.
Era pequena também, como uma casa de boneca, de gente pequena. Na entrada tinha uma velha senhora, baixinha, de cabelos brancos, de rugas profundas, de humor sisudo.
Ele, o menino apressado, sequer olhou para a guardiã da casa e foi logo adentrando. O primeiro cômodo era um quarto. As paredes não tinham um bom acabamento, e eram amareladas. Da tinta talvez, do tempo, do mofo. A janelinha era curva na parte de cima, como são todas as janelas das casinhas de gente pequena. E essa era azul. Azul clarinho, assim, quase bebê.
Na verdade, o menino nem reparou muito nesses detalhes à primeira vista, afinal, estava apressado.
E assim, abaixado para não bater a cabeça no teto da casa, ele saiu daquele cômodo e entrou no outro. Um outro quarto.
As cores eram diferentes, tinha verde clarinho, assim, quase bebê e tinha um toque de vermelho também. Vermelho vivo. Vermelho sempre é vivo.
Ele tentou abrir a janela para ver se encontrava um jeito de sair logo dali. Ele só sabia que tinha que sair depressa.
Do outro lado da janela, era como se tivesse uma outra parede. Mas isso ele nunca pôde constatar.
E assim, foi saindo de um quarto e entrando em outro. Em outros, seguidos, parecidos, procurando uma saída que parecia não existir. E já desesperado pensou em fazer o caminho de volta. Sua única solução seria, então, sair por onde entrou e procurar um outro caminho, que é claro, tinha que existir.
Com certo esforço e com a ajuda significativa do desespero, ele refez o caminho, voltou em cada quarto e finalmente chegou ao primeiro. Ou ao que parecia ser o primeiro porque ali não havia mais porta alguma, só uma janela a mais, que ele bateu, bateu muito, com força e conseguiu abrir uma pequena brecha por onde via os cabelos brancos e parte da cara carrancuda da vellha.

- Ei, eu quero sair daqui, abra a porta! - disse o menino.
- Você está vendo alguma porta?
- Como eu faço para sair, então?
- Você tem que escolher um quarto, cada quarto vem com um presente.
- Ok, na verdade eu só queria sair da casa, mas então eu fico com este quarto que estou, o primeiro. E agora, o que eu ganho? - perguntou o menino impaciente.
- Este quarto vale a casa. Com o quintal.
- Certo, e agora, como faço pra sair?
- Aqui você não pode sair pela mesma porta que entrou, até porque ela não existe mais.
- Mas não existem outras portas nessa casa!
- Pois é, eu costumo avisar às pessoas que me perguntam antes de entrar.
- E como eu faço para tomar posse do quintal?
- Você não tomará posse alguma. A casa e o quintal seriam seus se.
- Por que?
- Porque existem regras e essa é a regra para quem não sabe brincar.
- Olha, eu só quero sair daqui, não quero brincar.
- Exatamente por isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que desesperador.