10.1.12

Vinte e quatro menos vinte

Quando eu tinha quatro anos uma das minhas irmãs fez quinze. Festa pomposa, centenas de convidados e minha mãe me fez ir de bermuda. De linho, mas bermuda.
Mal humorado e vaidoso que só eu, fui achando tudo feio e péssimo. Quando ela trazia adultos para me cumprimentarem, para dizerem o quanto eu estava um hominho e o quanto eu tinha crescido, eu ficava olhando pra pessoa e não estendia a mão, só pra morgar todo mundo e fazer minha mãe passar vergonha diante das pessoas.
Eu, de certa forma, tentava castigá-la por aquele ato cruel de me fazer ir pra uma festa daquele porte de bermuda.
E me permiti fazer aquilo porque tinha plena consciência que crianças de quatro anos podiam ser malcriadas.
Lembro perfeitamente da cena de um tio meu com mão estendida pra mim, esperando o meu aperto e o pensamento na minha cabeça: eu ainda tenho quatro anos e crianças de quatro anos tem o direito de fazer esse tipo de coisa.

Parece triste, mas eu lido muito melhor com o fato de eu não ter tido infância, do que com o fato de eu nunca ter deixado de ser essa criança birrenta.

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