foi embora, deu um tempo, desopilou. a princípio, sentiu uma ponta de coerção, mas aos poucos foi se adaptando a idéia e transformou-a em "só tem tu, vai tu mesmo". fugiu daqui, da rotina, de vocês. foi com um só pensamento e uma só vontade que fariam com que o dia inteiro valesse a pena. os dias valeram.
no primeiro dia observou minuciosamente como já é de costume. viu a linha do horizonte e em seguida olhou ao redor. à direita haviam crianças e não-mais-crianças jogando bola. iluminadas pelo sol, faziam poses que pareciam propositais. fotografou tudo, lógico. em sua mente. do outro lado haviam dois casais de adolescentes. cada um com seu par combinante. a loira simpática com o loiro, a morena com o moreno. conversavam em pé tentando liberar a descontração que a timidez insitia em prender.
o sol foi descendo cada vez mais, os meninos também foram jogar bola e as meninas ficaram por ali...
apesar de parecer, não estava só. sua velha companheira estava lá mais uma vez, concretizando aquela cena idealizada.
no segundo dia fez questão de repetir a cena e seguir a pequena rotina. viu os mesmos meninos jogando bola, as mesmas meninas conversando animadamente e brincando com a areia.
sentou-se, olhou para o horizonte, sentiu o vento e viu o sol descer mais uma vez. em ótima compainha, claro.
e no caminho da volta, depois de caminhar alguns metros, onde a areia já tinha virado barro, escutou os passos apressados. o barulho dos pés descalços naquele chão batido, cada vez mais próximo.
- ei
escutou claramente, mas não olhou. não conhecia ninguém ali e de qualquer forma, simpatia nunca foi seu forte.
ela não desiste e para bem à sua frente tornando, o que quer que fosse aquilo, inevitável.
- ei
os cabelos loiros eram volumosos, ondulados e conseguiam se ressaltar apesar de estarem presos, os olhos radiantes eram cor de céu à tardinha e o sorriso espontâneo, verdadeiro.
- oi, responde tentando esboçar um sorrisinho sem graça.
- posso te fazer uma pergunta?
já está fazendo. e se for pra fazer outra, não, não pode. eu sempre odeio a pergunta que vem depois dessa. se uma pergunta precisa de autorização para ser feita é porque não deve ser feita.
- pode, claro.
- o que tu tava ouvindo?
primeiramente fica chocado com tamanha ousadia, e inveja por ver alguém fazendo aquela pergunta que ele tanto imaginou fazer para tantos outros e nunca fez. se enrola um pouco na resposta, tenta escolher uma coisa só e termina sendo vago, como sempre. mesmo assim, pareceu o bastante.
- ah, tá bom! brigada!
- nada.
riu e correu do mesmo jeito que chegou.
deixando lembraças e solidão.
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