Prólogo
Aí eu tava hoje numa conversa de bar quando soltaram a informação de que Alceu Valença não canta no Galo da Madrugada.
Mas tudo tem um porquê: o primeiro é que ele cobra um cachê fora da realidade, o segundo é que ele cobra um cachê fora da realidade para não haver a possibilidade de alguém convidá-lo, pois segundo informações colhidas, ele se nega a cantar num bloco onde há outro ritmo tocando que não o frevo.
Fiquei meio em choque com essa info e, independente de ser verdade ou não, eu fiquei pensando: caralho, pior que tem gente que é capaz de fazer isso mesmo.
Capítulo Um [e único]
Antes de mais nada, eu queria que vocês entendessem uma coisa: eu não gosto de carnaval e hoje tô afim de fazer a Teta Barbosa.
Apesar de crescer vivenciando isso, chegou uma época na minha vida que eu resolvi não mais me forçar a determinadas coisas porque bora, todo mundo vai. Eu não gosto de carnaval e sou feliz assim, com a graça de Deus.
Pra deixar bem mastigadinho: eu também não gosto do samba das escolas de samba, não gosto de axé e não gosto de frevo.
E frevo eu deixei por último porque é do coitado mesmo que eu quero falar.
Não sei se todo mundo sabe, mas se não sabe, deveria saber que Pernambucanos tem um complexo de inferioridade enorme, só que pra canalizar isso, há um bairrismo exacerbado, que beira o irracional, vide a maior avenida em linha reta do mundo, o maior bloco de carnaval do mundo, o maior ovo do mundo pra aguentar essa baboseira toda, etc.
E antes que alguém pegue ar, faço questão de ressaltar, mais uma vez, aqui neste singelo diário, o quanto dou valor a cultura local. Acho foda mesmo maracatu, caboclinho, papangus, cirandas e até o frevo. Porque achar foda é uma coisa, gostar, é outra.
Só que o problema do frevo, hoje em dia, é que não existe hoje em dia pro frevo. O frevo tornou-se patrimônio cultural/imaterial/seiláoque da humanidade, porque além de ser altamente representativo e rico culturalmente, o frevo é algo histórico, é como um forte enorme construído no litoral da cidade pelos holandeses. O frevo é como Simone cantando todo ano então, é natal.
É um marco, um hino, um grito, é um só.
Em paralelo a isso, há o Axé, por exemplo, que todo ano, trata de produzir inúmeros hits pra deixar todo mundo dançando, dançando, dançando, dan dan dan dan dan dançando e se você quiser pode dançar largadinho, largadinho, largadinho. Há ainda as dezenas de escolas de samba que se esforçam para criar enredos dignos [para os jurados] de nota 10.
O fato é que, sendo de qualidade ou não, agradando gostos musicais ou não, o frevo parou no tempo e, pensando cá com meus botões, este é um dos motivos para o carnaval do Recife ser multicultural. Não haveria repertório, nem cu que aguentaria o frevo full time durante esse período.
Não se questiona aqui a democratização do carnaval, a céu aberto, sem cordão de isolamento. Isso é inquestionaval e Recife está de parabéns.
Este é só mais um desabafo e apelo de um recifense que reconhece quando é hora de mudar, inovar ou renovar.