17.3.08

o que é um beijo se eu posso ter o teu olhar?

eu queria te dizer uma coisa. aliás, uma coisa não, várias coisas. eu sei que coisa é uma palavra muito banal pra tudo que eu quero dizer. mas não encontro mais nenhuma. é que são tantas coisas que não pode ter outro nome senão "coisas". é tudo aquilo que eu queria ter te dito quando pensei, quando senti, quando, sei lá, tinha vontade. na verdade eu só queria mesmo poder te dizer. sem precisar pensar duas vezes e ficar tentando encontrar alguma brecha que você tivesse me dado ao longo desses anos. mas você não deu. após tantos momentos intensos, tantas situações vividas, você sabe. foram gritos, foram silêncios, gargalhadas de chorar, abraços de deixar sem ar. e eu que nunca chorei na tua frente estou aqui, com os olhos marejados agora, bem agora. marejados só, você deve pensar. não, isso é bastante. e é o máximo que consigo há muito, muito tempo. em alguns momentos eu achei que tinha atingido o máximo com você. mas logo depois acontece alguma coisa, coisa que me impede de atingir esse máximo, de sentir. como é possível atingirmos esse ápice sem que eu possa te dizer? sim, eu sei, a gente consegue dizer várias coisas sem precisar abrir a boca pra falar, isso é bom, eu não nego, me orgulho, é lindo! mas às vezes palavras - tão falhas - precisam ser ditas, precisam ser jogadas, agarradas, guardadas. por mim, por você. eu também quero guardar as suas, desde que elas existam. é isso que precisa existir. essa troca sem medidas, impensada, aberta, livre que só pode ser concebida após anos de uma relação como a nossa. a gente tá pronto, a gente passou do ponto e só você não vê. agora há uma lacuna enorme que precisa ser preenchida, e seria, se dependesse de mim. não é possível que você não queira. me diz, me diz. você quer? não pensa muito não, por favor. porque durante todo esse tempo esse espaço vazio só faz crescer num circulo vicioso e eu já passei da crise de abstinência. já tentei e experimentei outras coisas, que coisa. mas só você que me causa aquele efeito instantâneo e duradouro. então, para de recorrer a qualquer um porque eles não passam disso. qualquer uns. deixa eu te dizer uma coisa, uma só: é preciso dizer. me diz, pode dizer. porque eu preciso te dizer um monte de coisa.

11.3.08

o sapo e o escorpião

Um escorpião encontrava-se à beira de um rio e desejava atravessá-lo para chegar à outra margem. Avistou um sapo que se preparava para o trajeto e aproximou-se com cautela para lhe fazer um pedido.

- Te carregar até a outra margem? Não sou tolo. Sei que vais me picar e eu morrerei com teu veneno.
- Mas isso não faz sentido. Eu não sei nadar, preciso de você para chegar ao outro lado. É do meu interesse que você viva, caso contrário, morreríamos os dois.

Rendendo-se aos argumentos coerentes do escorpião, o sapo resolve ceder e deixa que ele suba em suas costas durante o percurso.
Pouco depois da metade do trajeto o sapo sente uma picada brusca e o veneno percorrendo rapidamente seu corpo, paralizando-lhe os membros.
Ao se ver afundando o sapo reune todas as suas forças para tentar descobrir o porquê.

- Por que? Por que fizeste isso? Agora ambos vamos morrer! Lamentou o sapo para o escorpião que também já era engolido pela água.
- Eu sei. Desculpe, mas faz parte da minha natureza.

6.3.08

mórbido, porém poético.

"quando te encontrar vou levar um moedor gigante que tem lá na fábrica.
e te deixar em pedacinhos pra que eu possa ter partes de tu onde quer que eu esteja."


eu ainda vou me dar mal por subestimar tanto as pessoas à minha volta. :~

5.3.08

what happens when you lose everything?

you just start again.

4.3.08

um simples storyline

- rafael, veja só, eu li seu storyline e achei algumas partes meio confusas...
- hum?

O bom filho à casa torna. Depois de anos afastados, mãe e filho se reencontram e num diálogo profundo, superficial (faz cara de "ãn") e intenso, trocam sentimentos e impressões.
Descobertas e revelações subjetivas (cara de "ãn" mesmo) são expostas nos mais simples gestos e palavras, tão pequenos e tão significativos ("ãããn").

- professora, sinceramente. é Ó-bvio que tudo foi intencional. esse texto representa perfeitamente a história. é isso mesmo.
- ah, ok.

3.3.08

SOHNOS

o lugar era novamente familiar, ainda da época da pseudo-infância, da época que eu tinha uma rotina. olha que feliz, eu tinha uma rotina. mais uma vez não sabia o que fazia ali, sozinho, sentado numa calçada, olhando pro trânsito parado de carros antigos. dentro de um deles havia um senhor. não sei bem quem era. talvez o tio da little miss sunshine piorado. o fato é que ele me olhava. muito. indiscretamente. tenho medo de gente assim. e com razão. num piscar de olhos ele já estava fora do carro, correndo atrás de mim com uma faca na mão e uma cara de psicopata. a faca não era tão assustadora. aquelas dos jogos de talheres, tramontina. mas a cara de psicopata compensava.
eu corri, lógico. aliás, mais uma vez tentei correr em vão. a sensação dessa vez não era de estar em baixo d'água. era como se eu fosse um fantoche controlado por alguém que se divertia bastante em me ver tentando correr sem conseguir.
entrei numa pequena farmácia. pequena mesmo. mal cabia uma pessoa e não havia remédio algum. mas era uma famárcia. no meio (que era canto) havia um isopor. vendia-se picolés de graviola com um toque de mel. custavam cinquenta centavos cada. mas eu não sei porque, achei que eram trinta. catei as moedas, mas não deu tempo de comprar porque o perseguidor tinha voltado à ativa.
saí tentando, novamente sem sucesso, correr. dessa vez foi um pouco menos lento. a locação agora era um mercadinho. entrei pedindo abrigo e de um quarto nos fundos liguei para casa. alguém tinha que me salvar, me tirar dali.
chama, chama e ninguém atende.

1.3.08

29 de Fevereiro de 2008

eu nunca tinha parado pra pensar nessa coisa de 29 de fevereiro. mas é que ontem me disseram que é um dia especial. só de quatro em quatro anos, né? algo de atípico deveria ser feito. pra que fosse relembrado no próximo vinte e nove do dois. talvez a ligação coercitiva e a agradável dedicatória inesperada já bastassem, mas o dia, amiguinhos, estava apenas começando.

eu que adoro um pretexto para "dias especiais" fiz questão de espalhar aos quatro ventos que hoje era dia vinte e nove! inclusive dentro de casa:

- hoje é dia vinte e nove, sabia? outro desses só daqui há quatro anos.
- anram. e daí?
- e daí que você tem que fazer algo especial, diferente.
- eu fui fazer minhas unhas na casa de fulana, isso conta?
- você vai se lembrar disso daqui há quatro anos?
- claro.
- então, conta.

já eu, não fui fazer minhas unhas, mas revi minhas saudades constantes e recebi mais uma ligação inesperada e coercitiva. e vi a cena que tinha idealizado durante a semana inteira. a última que achei que ia se concretizar.
vi areia lisa, vi lua nascer do mar, vi pescadores. tomei água de côco.
sentei, sujei, sorri, rodei, molhei os pés. corri, revelei, descobri, troquei.
mas sabe o que mais me marcou?
eu conto depois pra ti, que me proporcionou tudo isso.

mas ó:
- se tu for contar algo de hoje no teu blog, não fala do meu carro não, tá? eu tenho vergonha dele.
- tá.